Para a mais bela de todas as mentes que
já pude conhecer, estarei sempre junto.
Pérola
estava se sentindo mais cansada do que nunca, muito mais cansada do que se
lembrava já ter estado nos seus vinte e oito anos. Ela se jogou em sua cama, o
gato pulou em sua barriga quase que imediatamente. Ela se sacudiu para que ele
saísse. Ele não se moveu.
-Sai
Rajá! – disse ela o tirando com a mão. O gato resmungou mas aceitou e deitou ao
seu lado. Ela ficou ali pensando por alguns instantes antes que o celular
vibrasse. Provavelmente alguém querendo alguma coisa, alguém querendo
encontrá-la, alguém querendo marcar um show. A decisão tomada foi não olhar
nada naquele momento. Pérola precisava dormir
mais do que nunca.
Ela
fechou seus olhos, conseguia ouvir algum ruído vindo ao longe da rua, logo ela
pegou no sono. De repente havia uma pequena menina numa sala com piso de
madeira, do lado esquerdo o que parecia ser uma porta de entrada, ao lado
direito uma escada. A menina subiu e se viu num quarto, uma cama, uma estante
com livros e mangás, uma escrivaninha, canetas, lapiseiras, papéis, muitos
desenhos espalhados pelo quarto. O gato Rajá – não aquele que ela tinha agora,
um antigo – estava confortavelmente deitado sobre um dos desenhos. A menina se
aproximou e abraçou o gato da forma mais forte que pôde. Tudo parecia tão
distante. O desenho em questão, ela não se lembrava mais.
-Pérola,
desce aqui logo! O Jantar está pronto! – ela ouviu aquela voz que há muito não
ouvia mais, sua mãe. Ela sentiu o corpo estremecer.
Agora
ela não era mais a menininha segurando o gato, ela era uma moça de uns
dezessete anos. Estava sentada na escrivaninha e desenhava, pretendia ficar ali
a noite inteira até que sua mão não conseguisse mais erguer o lápis. Ela tinha
que esquecer, tinha que esquecer aquele homem horrível que a perseguia, tinha
que esquecer sua mãe xingando-a de tudo o que podia, culpando-a por tudo de
horrível que aconteceu a ela. Junto com o desenho as lágrimas rolavam. Eram lágrimas
de raiva, de um desespero que aparentemente ninguém mais conseguiria entender. Mas
ela entendia, entendia que tudo aquilo não tinha o menor sentido.
Um
piscar de olhos e ela estava num palco sorrindo, véus faziam danças por todos
os lados, os homens na plateia iam a loucura, algumas mulheres também. Sua mãe
estava lá, olhando e sorrindo. Talvez fosse exatamente o que ela sempre quis,
nunca conseguira. Sua filha conquistou. De repente, Pérola estava pegando suas
coisas, saindo de casa. O inferno chegava ao fim, ela não teria mais que se
preocupar com nada daquilo. Havia mais alguém que se importava comigo, havia
outras pessoas no mundo e, mais, havia um mundo para o qual aquela Pérola poderia
brilhar mais do que qualquer outra, fosse dançando, desenhando. Fosse fazendo
aquilo que sua linda mente quisesse fazer, as amarras estavam soltas,
finalmente. Aquilo tudo, todo o inferno terminara. Não importava mais o que
viesse em seguida, não seria pior, porque o pior já tinha passado.
Pérola
acordou com um sorriso no rosto, o gato Rajá de volta em sua barriga e o sol
entrando pela cortina do quarto. Ela esfregou os olhos e percebeu que tinha
dormido a noite inteira com a roupa do corpo. Não conseguia se lembrar muito
bem do sonho que tivera, mas sabia que ele tinha terminado bem, muito melhor do
que se podia imaginar. Ela sorriu mais pelas possibilidades que ainda haviam em
sua direção.
Este foi perfeito, me identifique completamente.
ResponderExcluirEste foi perfeito, me identifique completamente.
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