domingo, 10 de maio de 2015

Uma Bela Mente


Para a mais bela de todas as mentes que já pude conhecer, estarei sempre junto.

Pérola estava se sentindo mais cansada do que nunca, muito mais cansada do que se lembrava já ter estado nos seus vinte e oito anos. Ela se jogou em sua cama, o gato pulou em sua barriga quase que imediatamente. Ela se sacudiu para que ele saísse. Ele não se moveu.

-Sai Rajá! – disse ela o tirando com a mão. O gato resmungou mas aceitou e deitou ao seu lado. Ela ficou ali pensando por alguns instantes antes que o celular vibrasse. Provavelmente alguém querendo alguma coisa, alguém querendo encontrá-la, alguém querendo marcar um show. A decisão tomada foi não olhar nada naquele momento. Pérola precisava dormir mais do que nunca.

Ela fechou seus olhos, conseguia ouvir algum ruído vindo ao longe da rua, logo ela pegou no sono. De repente havia uma pequena menina numa sala com piso de madeira, do lado esquerdo o que parecia ser uma porta de entrada, ao lado direito uma escada. A menina subiu e se viu num quarto, uma cama, uma estante com livros e mangás, uma escrivaninha, canetas, lapiseiras, papéis, muitos desenhos espalhados pelo quarto. O gato Rajá – não aquele que ela tinha agora, um antigo – estava confortavelmente deitado sobre um dos desenhos. A menina se aproximou e abraçou o gato da forma mais forte que pôde. Tudo parecia tão distante. O desenho em questão, ela não se lembrava mais.

-Pérola, desce aqui logo! O Jantar está pronto! – ela ouviu aquela voz que há muito não ouvia mais, sua mãe. Ela sentiu o corpo estremecer.

Agora ela não era mais a menininha segurando o gato, ela era uma moça de uns dezessete anos. Estava sentada na escrivaninha e desenhava, pretendia ficar ali a noite inteira até que sua mão não conseguisse mais erguer o lápis. Ela tinha que esquecer, tinha que esquecer aquele homem horrível que a perseguia, tinha que esquecer sua mãe xingando-a de tudo o que podia, culpando-a por tudo de horrível que aconteceu a ela. Junto com o desenho as lágrimas rolavam. Eram lágrimas de raiva, de um desespero que aparentemente ninguém mais conseguiria entender. Mas ela entendia, entendia que tudo aquilo não tinha o menor sentido.

Um piscar de olhos e ela estava num palco sorrindo, véus faziam danças por todos os lados, os homens na plateia iam a loucura, algumas mulheres também. Sua mãe estava lá, olhando e sorrindo. Talvez fosse exatamente o que ela sempre quis, nunca conseguira. Sua filha conquistou. De repente, Pérola estava pegando suas coisas, saindo de casa. O inferno chegava ao fim, ela não teria mais que se preocupar com nada daquilo. Havia mais alguém que se importava comigo, havia outras pessoas no mundo e, mais, havia um mundo para o qual aquela Pérola poderia brilhar mais do que qualquer outra, fosse dançando, desenhando. Fosse fazendo aquilo que sua linda mente quisesse fazer, as amarras estavam soltas, finalmente. Aquilo tudo, todo o inferno terminara. Não importava mais o que viesse em seguida, não seria pior, porque o pior já tinha passado.


Pérola acordou com um sorriso no rosto, o gato Rajá de volta em sua barriga e o sol entrando pela cortina do quarto. Ela esfregou os olhos e percebeu que tinha dormido a noite inteira com a roupa do corpo. Não conseguia se lembrar muito bem do sonho que tivera, mas sabia que ele tinha terminado bem, muito melhor do que se podia imaginar. Ela sorriu mais pelas possibilidades que ainda haviam em sua direção.

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