terça-feira, 28 de abril de 2015

Confissões

Aos alunos que fizeram da minha vida muito melhor nos últimos dois anos e meio.

Profissões deveriam ser escolhidas com todo o cuidado do mundo, porque teoricamente é o que você fará pelo resto da sua vida. Costumo dizer em aula que dezessete ou dezoito anos é uma idade muito pequena para se tomar esse tipo de decisão. A verdade é que tomei a minha aos dezoito anos sem nem ao menos imaginar o que me esperava. Fui surpreendido de uma forma tão positiva que apesar de todos os percalços, não consigo desistir de continuar fazendo isso.


Desde pequeno tenho mania de herói, nunca vou esquecer um livro que vi uma vez com um amigo, quando abrimos ele dizia: “I don’t want to be a hero, I just want to be a zero”, ou em português: “Eu não quero ser um herói, eu só quero ser um zero”, logo meu amigo disse que se identificava e eu disse que também, só que ao contrário. Eu queria mudar o mundo, sem exageros. Por mais megalomaníaco que pareça, sempre quis isso. Claro, não podemos mudar o mundo sozinhos, isso é uma completa loucura. Acontece que eu não estou sozinho.

Existe uma coisa impressionante nesse mundo, que nós, seres humanos inventamos: a palavra. E com a palavra, a intenção que põe na frase a ser dita, no discurso a ser proferido. Desde minha primeira aula em meu estágio há mais de três anos atrás, minha intenção, mesmo que inconsciente, foi de uma mudança completa. Queria mudar aquelas pessoas para que elas pudessem mudar outras e assim por diante. É um trabalhinho de formiga esse de professor, mas é o trabalho mais satisfatório do mundo.

Hoje é 28 de Abril de 2015, e um dos meus ex-alunos mais fantásticos chega à sua maioridade. Com ele eu tive a oportunidade e a honra de manter uma relação de amizade desde que ele se formou em 2013, sou imensamente feliz por isso. Vendo-o hoje, percebi que sou imensamente feliz por cada um dos alunos que passaram (e ainda vão passar) por mim, porque eles me transformaram. Sim, eu queria transformá-los, e espero que tenha feito, mas eles absolutamente o fizeram comigo. O professor inexperiente que os encontrou em 2013 tem se transformado num professor que briga, dá risada, enfrenta o que for por eles. Pra mostrar pra eles que podem sim.

No começo deste ano as circunstâncias governamentais mudaram um pouco e, infelizmente, eu acabei ficando de fora da sala de aula. E só sendo eu para entender o quanto aquele lugar me faz falta, o barulho, as perguntas, a lousa e o giz, os olhos brilhando de interesse, as piadas (até as fora de hora), os abraços todas as manhãs me dando aquele “bom dia” que tira qualquer tristeza do coração. Aqueles sonhos ainda por se cumprir (e que se cumprirão) todos muito frescos, toda aquela energia. Sinto saudades também dos problemas, da tristeza de alguns que às vezes, eu conseguia transformar numa risada ou numa gargalhada que fazia eu ganhar meu dia inteiro. Nunca quis uma sala em silêncio, nunca quis uma sala que me mostrasse resultados por meio de notas (há no mundo algo mais abstrato que notas???), preferi sempre o barulho das discussões e das perguntas e se os outros achavam que isso era bagunça, talvez eles nunca tenham tido uma aula que conseguiu despertar algo neles. 


Com meus alunos eu aprendi uma coisa muito importante (não só para professores de filosofia, para todo ser humano): a realidade. Aprendi outras vidas que são completamente diferentes da minha, aprendi gostos muito variados, aprendi maneiras de lidar com cada um de acordo com suas próprias individualidades, aprendi o que cada um ama e odeia, aprendi o que cada um quer ser na vida, aprendi a vida de cada um, como cada um aprende. Aprendi que uma palavra que pra mim parece banal, pro outro pode ser o céu ou o inferno. Aprendi coisas de mais que nenhuma outra pessoa pode entender do mesmo jeito que eu entendi. Talvez ninguém entenda essa nossa jornada, talvez só nós possamos entender. Mas acho que já basta.

 Confissão: não me arrependo de ter escolhido essa profissão nem por um segundo. E sinto saudades de todos.

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