Abril
de 2015.
Para Ana, Aninha, Lígia, Ingrid e
Adriane, minhas lanternas das noites escuras.
(Para se ler ouvindo a música postada)
-Tem
tanta música tocando na minha cabeça ao mesmo tempo que eu não sei bem qual é
qual, Pati. – Kátia parecia um pouco perturbada sentada naquela poltrona de
couro num café perdido pela região da Paulista.
-Calma,
daqui a pouco melhor. É normal no começo. – Patrícia colocou a mão na mão da
amiga num gesto de carinho. Naquele momento Alan chegou correndo e abraçou
Kátia com toda a força que podia.
-Como
você está? Eu vim correndo, mas estava trânsito por causa da chuva. – ele estava
afobado, mais que o normal.
-Com
muitas músicas na minha cabeça. – ela repetiu olhando para a xícara de café
parada na mesinha.
Lá
fora chovia a cântaros, os carros acendiam os faróis e quem olhasse a rua
pensaria estar vendo um monte de lanternas no mar, no meio de uma enorme
tempestade.
-Você
não pode se sentir assim... – sussurrou Alan mais para ele mesmo do que para
Kátia.
-Eu
queria que as músicas parassem, só isso.
-E o
que vem no lugar delas? – perguntou Patrícia forçando um sorriso.
-Mais
música. – Kátia concluiu com um sorriso meio torto.
A
garçonete chegou de repente, ela tinha cabelos vermelhos que pareciam chamas,
um gingado de dançarina, a pele muito branca e os olhos negros.
-Desculpe,
eu não deveria me meter... – ela esperou que algum dos três dissesse algo. Como
nenhum deles se manifestou, ela continuou: Eu tenho a bebida perfeita para
esses momentos.
-Bebida
perfeita... Pérola? Você se chama Pérola? – Alan parecia um pouco indignado com
aquele nome.
-É
em homenagem à minha avó... Ela foi uma dançarina famosa nos anos quarenta. –
ela não se intimidou com a indignação de Alan.
A
porta se abriu mais uma vez fazendo o pequeno sino tocar e o som das buzinas
dos carros entrarem, eram Carol e Flávia, só faltavam elas que em certo silêncio sentaram-se no sofá ao lado de
Patrícia. Kátia não olhou para elas, mas percebeu que haviam chegado.
-Bem...
A bebida... Qual era? – perguntou Patrícia finalmente.
-Posso
trazer? – Pérola perguntou em fim.
-Pode.
– disse Kátia. – Qualquer coisa pra tirar isso da minha cabeça. Pérola sorriu e
correu para preparar qual fosse a tal bebida.
-Então...
Nós vamos falar sobre o que aconteceu? – Flávia parecia estar um pouco mais
ansiosa que o normal.
-Acho
melhor esperar... – Carol observou com atenção. Kátia ainda olhava para a
xícara sem nem ao menos piscar.
Sem
nenhum aviso prévio Pérola tirou a xícara e colocou em seu lugar um belo copo
com uma bebida cor de rosa, naquele momento Kátia mudou a expressão de vaga
para consternada. Os outros seguiram o mesmo exemplo.
-Isso
é feito de chiclete? – perguntou Alan ainda mais indignado dessa vez.
-Receita
de família. – disse Pérola sorrindo.
-Eu
tenho até medo... – disse Flávia baixinho para Carol que riu.
-Que
se foda. – declarou Kátia bebendo um gole. Ela sentiu um calor gostoso e
estranho no estômago quase que imediatamente. As coisas pareceram menos ruins
de repente.
-E
então? – perguntou Patrícia olhando atentamente a amiga.
-É...
ajuda. – disse ela sem entender.
-Há!
– Pérola deu uma palma e um pequeno salto – Eu sabia! A bebida rosa nunca
falha!
-Estrelas.
– disse Kátia de repente.
-Oi?
– Alan se levantou de tanta indignação que sentia.
-Vocês
todos, tem estrelas no lugar do coração. – disse Kátia com um enorme sorriso.
-Você
deu LSD pra menina? – perguntou Carol também se levantando.
-Eu
não! – defendeu-se a garçonete.
-Não!
É só uma coisa que eu já tinha pensado antes... Estrelas se conectam, é como se
nós fôssemos uma constelação. – disse ela, Alan sorriu.
-Constelação
de quê? – perguntou ele voltando a se sentar.
-Constelação
de Lanterna. – disse ela. – Bem-vinda à nossa pequena constelação, Pérola.
Ela
se sentiu um tanto estranha ao ouvir aquilo, porque pareceu absolutamente
natural que aquelas pessoas que estavam paradas ali formassem uma pequena
constelação, ainda mais uma que levasse a figura de uma lanterna. As lanternas
iluminam as noites escuras, elas trazem de volta os sorrisos, derrubam as
melodias tristes que às vezes tomam conta da mente. Elas são brilhantes como os
faróis dos carros na tempestade, mas acima de tudo, elas ajudam aqueles que
estão perdidos a encontrar um caminho. O bom é que existem várias pequenas
constelações de lanterna, quando unidas, elas se tornam um enorme farol que
mostra o caminho de casa.

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