quarta-feira, 8 de abril de 2015

Farol


Abril de 2015.

Para Ana, Aninha, Lígia, Ingrid e Adriane, minhas lanternas das noites escuras.
(Para se ler ouvindo a música postada)

-Tem tanta música tocando na minha cabeça ao mesmo tempo que eu não sei bem qual é qual, Pati. – Kátia parecia um pouco perturbada sentada naquela poltrona de couro num café perdido pela região da Paulista.

-Calma, daqui a pouco melhor. É normal no começo. – Patrícia colocou a mão na mão da amiga num gesto de carinho. Naquele momento Alan chegou correndo e abraçou Kátia com toda a força que podia.

-Como você está? Eu vim correndo, mas estava trânsito por causa da chuva. – ele estava afobado, mais que o normal.

-Com muitas músicas na minha cabeça. – ela repetiu olhando para a xícara de café parada na mesinha.

Lá fora chovia a cântaros, os carros acendiam os faróis e quem olhasse a rua pensaria estar vendo um monte de lanternas no mar, no meio de uma enorme tempestade.

-Você não pode se sentir assim... – sussurrou Alan mais para ele mesmo do que para Kátia.

-Eu queria que as músicas parassem, só isso.

-E o que vem no lugar delas? – perguntou Patrícia forçando um sorriso.

-Mais música. – Kátia concluiu com um sorriso meio torto.

A garçonete chegou de repente, ela tinha cabelos vermelhos que pareciam chamas, um gingado de dançarina, a pele muito branca e os olhos negros.

-Desculpe, eu não deveria me meter... – ela esperou que algum dos três dissesse algo. Como nenhum deles se manifestou, ela continuou: Eu tenho a bebida perfeita para esses momentos.

-Bebida perfeita... Pérola? Você se chama Pérola? – Alan parecia um pouco indignado com aquele nome.

-É em homenagem à minha avó... Ela foi uma dançarina famosa nos anos quarenta. – ela não se intimidou com a indignação de Alan.

A porta se abriu mais uma vez fazendo o pequeno sino tocar e o som das buzinas dos carros entrarem, eram Carol e Flávia, só faltavam elas que em  certo silêncio sentaram-se no sofá ao lado de Patrícia. Kátia não olhou para elas, mas percebeu que haviam chegado.

-Bem... A bebida... Qual era? – perguntou Patrícia finalmente.

-Posso trazer? – Pérola perguntou em fim.

-Pode. – disse Kátia. – Qualquer coisa pra tirar isso da minha cabeça. Pérola sorriu e correu para preparar qual fosse a tal bebida.

-Então... Nós vamos falar sobre o que aconteceu? – Flávia parecia estar um pouco mais ansiosa que o normal.

-Acho melhor esperar... – Carol observou com atenção. Kátia ainda olhava para a xícara sem nem ao menos piscar.

Sem nenhum aviso prévio Pérola tirou a xícara e colocou em seu lugar um belo copo com uma bebida cor de rosa, naquele momento Kátia mudou a expressão de vaga para consternada. Os outros seguiram o mesmo exemplo.

-Isso é feito de chiclete? – perguntou Alan ainda mais indignado dessa vez.

-Receita de família. – disse Pérola sorrindo.

-Eu tenho até medo... – disse Flávia baixinho para Carol que riu.

-Que se foda. – declarou Kátia bebendo um gole. Ela sentiu um calor gostoso e estranho no estômago quase que imediatamente. As coisas pareceram menos ruins de repente.

-E então? – perguntou Patrícia olhando atentamente a amiga.

-É... ajuda. – disse ela sem entender.

-Há! – Pérola deu uma palma e um pequeno salto – Eu sabia! A bebida rosa nunca falha!

-Estrelas. – disse Kátia de repente.

-Oi? – Alan se levantou de tanta indignação que sentia.

-Vocês todos, tem estrelas no lugar do coração. – disse Kátia com um enorme sorriso.

-Você deu LSD pra menina? – perguntou Carol também se levantando.

-Eu não! – defendeu-se a garçonete.

-Não! É só uma coisa que eu já tinha pensado antes... Estrelas se conectam, é como se nós fôssemos uma constelação. – disse ela, Alan sorriu.

-Constelação de quê? – perguntou ele voltando a se sentar.

-Constelação de Lanterna. – disse ela. – Bem-vinda à nossa pequena constelação, Pérola.

Ela se sentiu um tanto estranha ao ouvir aquilo, porque pareceu absolutamente natural que aquelas pessoas que estavam paradas ali formassem uma pequena constelação, ainda mais uma que levasse a figura de uma lanterna. As lanternas iluminam as noites escuras, elas trazem de volta os sorrisos, derrubam as melodias tristes que às vezes tomam conta da mente. Elas são brilhantes como os faróis dos carros na tempestade, mas acima de tudo, elas ajudam aqueles que estão perdidos a encontrar um caminho. O bom é que existem várias pequenas constelações de lanterna, quando unidas, elas se tornam um enorme farol que mostra o caminho de casa.




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