Apenas pra descontrair.
Jean
tinha trinta e cinco anos e era fã de Madonna, ele era melhor amigo de Daniel
que tinha vinte e cinco anos e era fã de Christina Aguilera. Eles moravam
juntos num prédio na Rua Frei Caneca, no andar de cima viviam Carolina, que era
fã de Katy Perry e tinha vinte e oito anos e Cláudio que era fã de Lady Gaga e
tinha vinte e dois anos, no apartamento ao lado deles, morava Marcelo que era
fã de Beyoncé e apaixonado por Cláudio em segredo, ele tinha vinte e nove anos.
Era
madrugada de sexta para sábado e todos estavam reunidos no apartamento de Jean
e Daniel bebendo cerveja, comendo pizza e discutindo o que havia de mais
importante a ser discutido: pop. No som uma seleção que alternava entre as
cinco divas.
-A
questão é simples, gente: reinvenção. Ninguém consegue fazer isso melhor que a
Madonna. Absolutamente ninguém pode. – declarou Jean de uma forma séria e
imponente que apenas a idade podia garantir.
-Eu
concordo Jean. – disse Marcelo – Mas a Queen
B tem um quê a mais.
-O
que? – perguntou Carolina esperando algo que fosse digno de riso.
-O
feminismo, ela é a cantora mais feminista da história.
Todos
riram juntos, mas esperavam o contra-ataque de Jean que não tardou a aparecer.
-A
Madonna inventou o feminismo na música, Marcelo. Me poupe. Pense em Express
Yourself, Erotica, Justify My Love.
-Vocês
vivem de museu ou o quê? – perguntou Cláudio com a voz mais fanha dos cinco. –
Mother Monster reinventou isso tudo e vocês aí discutindo o óbvio.
-O
óbvio da cópia né, querido? – zombou Daniel com um sorrisinho de canto no
rosto.
-Ai...
Lá vem o fã da flopada.
-Antes
flopada e destruidora do que copista. – disse Daniel ficando sério.
-Gente,
como vocês conseguem? Acho que todo mundo deveria ser Katy Cat, a questão é se divertir. Música é pra isso. Pra se
divertir! – disse Carolina erguendo os braços – E nós não estamos nos
divertindo aqui.
-Música
também pode ser reflexão... – disse Jean.
-E
arte né, pessoal? – disse Daniel parecendo declarar o óbvio.
-Arte
da subversão. – disse Cláudio soando malicioso.
-Arte
de ser poderosa. – disse Marcelo.
Todos
eles riram daquelas colocações, afinal todas eram verdadeiras. Carolina tomou
um gole de refrigerante, já que não bebia álcool e logo disse:
-Vamos
pensar numa coisa: quem de todas elas é a mais engraçada?
-Óbvio
que é a Katy, Carol. Isso não tem o que discutir. – disse Daniel.
-Quem
é a mais gostosa? – perguntou Jean.
-Beyoncé.
– respondeu Cláudio de uma forma espontânea.
-A
melhor vocalista? – perguntou Marcelo.
-A
Christina! – disse Carolina.
-A
mais poderosa? – perguntou Daniel rindo.
-Madonna!
– disse Jean muito rápido soando óbvio.
-Acho
que tá resolvido então... – começou Carolina.
-Pera
aí, quem é a mais subversiva? – perguntou Cláudio indignado.
-A
Madonna. – todos eles responderam juntos.
-Que
absurdo! Claro que não! – ele parecia ofendido.
-A
Gaga fez tudo o que a Madonna fez, Cláudio... Até não aguentar mais ser
estranha e aí resolveu fazer homenagem pra Julie Andrews no Oscar. – disse Marcelo
da forma mais simpática que pôde.
-Vocês
são preconceituosos. Eu não entendo esse ódio todo contra a Gaga... Só porque
ela escancarou os homossexuais efeminados? – ele estava realmente ofendido.
-Ela
tem esse mérito... Ouviu? Mérito. – disse Daniel especificando bem.
-Então
ela é a mais política no mínimo... – disse ele parecendo satisfeito.
-Vocês
estão esquecendo da Cyndi Lauper... Nesse quesito ela ganha. – disse Carolina
sorrindo meio timidamente.
-A
mais extravagante? – ele parecia meio perdido.
-Cher.
– disse Jean quase rindo.
-A
múmia mais velha... – Cláudio se levantou deixando a cerveja no chão e saindo
em disparada para a varanda.
-Vai
lá ver a bichinha vai, Marcelo. – disse Daniel nervoso.
-Vocês
sempre pegam muito pesado com ele. – Marcelo se levantou e foi até a varanda
tentar acalmar Cláudio.
Enquanto
eles começaram a discutir sobre o nível de politização de Cyndi Lauper, Cláudio
acendia um cigarro na varanda enquanto Marcelo parava ao seu lado.
-Você
precisa parar de ligar pra essas coisas... – Marcelo falou baixinho enquanto
passava a mão nos cabelos de Cláudio da forma mais carinhosa que podia.
-Vocês
estão sempre todos contra mim. Isso é óbvio. – ele falou nervoso enquanto
tragava.
-Até
eu? – ele sorriu se aproximando do rosto de Cláudio que corou quase
imediatamente, mas não se mexeu. Eles se beijaram.
-Você
é diferente... – ele disse tímido.
-Vamos
voltar pra lá vai... Depois a gente sobe pro meu apartamento e termina a noite
por lá... Com a Gaga tocando, que tal?
Cláudio
sorriu e fez que sim com a cabeça, jogou o cigarro fora e eles voltaram para a
sala.
-Passou
o chilique, veado? – perguntou Daniel sorrindo.
-Vocês
que não ousem me irritar de novo. – disse ele também sorrindo.
-Nós
chegamos a uma conclusão muito óbvia, Cláudio. – declarou Jean.
-Sem
dúvidas, e olha que até eu saí ganhando nisso. – riu Carolina.
-Falem
logo! – ele parecia impaciente.
-Todas
as nossas divas são incríveis por um motivo: elas sabem cantar, bem ou mal, mas
sabem. Além de escreverem suas próprias músicas, se envolverem no processo de
criação de álbuns, turnês e clipes. – disse Daniel parecendo um acadêmico
falando do assunto. – Logo, nós temos uma vencedora do troféu abacaxi de pior –
ele fez aspas com os dedos – “cantora” pop de todos os tempos.
-Todos
votaram a favor e a decisão é unânime. – disse Carolina.
-Eu
to vendo já quem é... – riu Marcelo.
-Britney
Spears. – todos disseram juntos e caíram numa crise de riso que durou por uns
dois minutos, quebrando todo o gelo e todas as diferenças que pareciam existir
ali. Tudo ficou bem... Pelo menos por aquela noite.

Nenhum comentário:
Postar um comentário