sexta-feira, 17 de abril de 2015

POP Wars


Apenas pra descontrair.



Jean tinha trinta e cinco anos e era fã de Madonna, ele era melhor amigo de Daniel que tinha vinte e cinco anos e era fã de Christina Aguilera. Eles moravam juntos num prédio na Rua Frei Caneca, no andar de cima viviam Carolina, que era fã de Katy Perry e tinha vinte e oito anos e Cláudio que era fã de Lady Gaga e tinha vinte e dois anos, no apartamento ao lado deles, morava Marcelo que era fã de Beyoncé e apaixonado por Cláudio em segredo, ele tinha vinte e nove anos.

Era madrugada de sexta para sábado e todos estavam reunidos no apartamento de Jean e Daniel bebendo cerveja, comendo pizza e discutindo o que havia de mais importante a ser discutido: pop. No som uma seleção que alternava entre as cinco divas.

-A questão é simples, gente: reinvenção. Ninguém consegue fazer isso melhor que a Madonna. Absolutamente ninguém pode. – declarou Jean de uma forma séria e imponente que apenas a idade podia garantir.

-Eu concordo Jean. – disse Marcelo – Mas a Queen B tem um quê a mais.

-O que? – perguntou Carolina esperando algo que fosse digno de riso.

-O feminismo, ela é a cantora mais feminista da história.
Todos riram juntos, mas esperavam o contra-ataque de Jean que não tardou a aparecer.

-A Madonna inventou o feminismo na música, Marcelo. Me poupe. Pense em Express Yourself, Erotica, Justify My Love.

-Vocês vivem de museu ou o quê? – perguntou Cláudio com a voz mais fanha dos cinco. – Mother Monster reinventou isso tudo e vocês aí discutindo o óbvio.

-O óbvio da cópia né, querido? – zombou Daniel com um sorrisinho de canto no rosto.

-Ai... Lá vem o fã da flopada.

-Antes flopada e destruidora do que copista. – disse Daniel ficando sério.

-Gente, como vocês conseguem? Acho que todo mundo deveria ser Katy Cat, a questão é se divertir. Música é pra isso. Pra se divertir! – disse Carolina erguendo os braços – E nós não estamos nos divertindo aqui.

-Música também pode ser reflexão... – disse Jean.

-E arte né, pessoal? – disse Daniel parecendo declarar o óbvio.

-Arte da subversão. – disse Cláudio soando malicioso.

-Arte de ser poderosa. – disse Marcelo.

Todos eles riram daquelas colocações, afinal todas eram verdadeiras. Carolina tomou um gole de refrigerante, já que não bebia álcool e logo disse:

-Vamos pensar numa coisa: quem de todas elas é a mais engraçada?

-Óbvio que é a Katy, Carol. Isso não tem o que discutir. – disse Daniel.

-Quem é a mais gostosa? – perguntou Jean.

-Beyoncé. – respondeu Cláudio de uma forma espontânea.

-A melhor vocalista? – perguntou Marcelo.

-A Christina! – disse Carolina.

-A mais poderosa? – perguntou Daniel rindo.

-Madonna! – disse Jean muito rápido soando óbvio.

-Acho que tá resolvido então... – começou Carolina.

-Pera aí, quem é a mais subversiva? – perguntou Cláudio indignado.

-A Madonna. – todos eles responderam juntos.

-Que absurdo! Claro que não! – ele parecia ofendido.

-A Gaga fez tudo o que a Madonna fez, Cláudio... Até não aguentar mais ser estranha e aí resolveu fazer homenagem pra Julie Andrews no Oscar. – disse Marcelo da forma mais simpática que pôde.

-Vocês são preconceituosos. Eu não entendo esse ódio todo contra a Gaga... Só porque ela escancarou os homossexuais efeminados? – ele estava realmente ofendido.

-Ela tem esse mérito... Ouviu? Mérito. – disse Daniel especificando bem.

-Então ela é a mais política no mínimo... – disse ele parecendo satisfeito.

-Vocês estão esquecendo da Cyndi Lauper... Nesse quesito ela ganha. – disse Carolina sorrindo meio timidamente.

-A mais extravagante? – ele parecia meio perdido.

-Cher. – disse Jean quase rindo.

-A múmia mais velha... – Cláudio se levantou deixando a cerveja no chão e saindo em disparada para a varanda.

-Vai lá ver a bichinha vai, Marcelo. – disse Daniel nervoso.

-Vocês sempre pegam muito pesado com ele. – Marcelo se levantou e foi até a varanda tentar acalmar Cláudio.

Enquanto eles começaram a discutir sobre o nível de politização de Cyndi Lauper, Cláudio acendia um cigarro na varanda enquanto Marcelo parava ao seu lado.

-Você precisa parar de ligar pra essas coisas... – Marcelo falou baixinho enquanto passava a mão nos cabelos de Cláudio da forma mais carinhosa que podia.

-Vocês estão sempre todos contra mim. Isso é óbvio. – ele falou nervoso enquanto tragava.

-Até eu? – ele sorriu se aproximando do rosto de Cláudio que corou quase imediatamente, mas não se mexeu. Eles se beijaram.

-Você é diferente... – ele disse tímido.

-Vamos voltar pra lá vai... Depois a gente sobe pro meu apartamento e termina a noite por lá... Com a Gaga tocando, que tal?

Cláudio sorriu e fez que sim com a cabeça, jogou o cigarro fora e eles voltaram para a sala.

-Passou o chilique, veado? – perguntou Daniel sorrindo.

-Vocês que não ousem me irritar de novo. – disse ele também sorrindo.

-Nós chegamos a uma conclusão muito óbvia, Cláudio. – declarou Jean.

-Sem dúvidas, e olha que até eu saí ganhando nisso. – riu Carolina.

-Falem logo! – ele parecia impaciente.

-Todas as nossas divas são incríveis por um motivo: elas sabem cantar, bem ou mal, mas sabem. Além de escreverem suas próprias músicas, se envolverem no processo de criação de álbuns, turnês e clipes. – disse Daniel parecendo um acadêmico falando do assunto. – Logo, nós temos uma vencedora do troféu abacaxi de pior – ele fez aspas com os dedos – “cantora” pop de todos os tempos.

-Todos votaram a favor e a decisão é unânime. – disse Carolina.

-Eu to vendo já quem é... – riu Marcelo.


-Britney Spears. – todos disseram juntos e caíram numa crise de riso que durou por uns dois minutos, quebrando todo o gelo e todas as diferenças que pareciam existir ali. Tudo ficou bem... Pelo menos por aquela noite. 

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