Aos
alunos que fizeram da minha vida muito melhor nos últimos dois anos e meio.
Profissões
deveriam ser escolhidas com todo o cuidado do mundo, porque teoricamente é o
que você fará pelo resto da sua vida. Costumo dizer em aula que dezessete ou
dezoito anos é uma idade muito pequena para se tomar esse tipo de decisão. A verdade
é que tomei a minha aos dezoito anos sem nem ao menos imaginar o que me
esperava. Fui surpreendido de uma forma tão positiva que apesar de todos os
percalços, não consigo desistir de continuar fazendo isso.
Desde
pequeno tenho mania de herói, nunca vou esquecer um livro que vi uma vez com um
amigo, quando abrimos ele dizia: “I don’t
want to be a hero, I just want to be a zero”, ou em português: “Eu não quero ser um herói, eu só quero ser
um zero”, logo meu amigo disse que se identificava e eu disse que também,
só que ao contrário. Eu queria mudar o mundo, sem exageros. Por mais
megalomaníaco que pareça, sempre quis isso. Claro, não podemos mudar o mundo
sozinhos, isso é uma completa loucura. Acontece que eu não estou sozinho.
Existe
uma coisa impressionante nesse mundo, que nós, seres humanos inventamos: a
palavra. E com a palavra, a intenção que põe na frase a ser dita, no discurso a
ser proferido. Desde minha primeira aula em meu estágio há mais de três anos
atrás, minha intenção, mesmo que inconsciente, foi de uma mudança completa. Queria
mudar aquelas pessoas para que elas pudessem mudar outras e assim por diante. É
um trabalhinho de formiga esse de professor, mas é o trabalho mais satisfatório
do mundo.
No começo
deste ano as circunstâncias governamentais mudaram um pouco e, infelizmente, eu
acabei ficando de fora da sala de aula. E só sendo eu para entender o quanto
aquele lugar me faz falta, o barulho, as perguntas, a lousa e o giz, os olhos
brilhando de interesse, as piadas (até as fora de hora), os abraços todas as
manhãs me dando aquele “bom dia” que tira qualquer tristeza do coração. Aqueles
sonhos ainda por se cumprir (e que se cumprirão) todos muito frescos, toda
aquela energia. Sinto saudades também dos problemas, da tristeza de alguns que
às vezes, eu conseguia transformar numa risada ou numa gargalhada que fazia eu
ganhar meu dia inteiro. Nunca quis uma sala em silêncio, nunca quis uma sala que me mostrasse resultados por meio de notas (há no mundo algo mais abstrato que notas???), preferi sempre o barulho das discussões e das perguntas e se os outros achavam que isso era bagunça, talvez eles nunca tenham tido uma aula que conseguiu despertar algo neles.
Com meus
alunos eu aprendi uma coisa muito importante (não só para professores de
filosofia, para todo ser humano): a realidade. Aprendi outras vidas que são
completamente diferentes da minha, aprendi gostos muito variados, aprendi
maneiras de lidar com cada um de acordo com suas próprias individualidades,
aprendi o que cada um ama e odeia, aprendi o que cada um quer ser na vida,
aprendi a vida de cada um, como cada um aprende. Aprendi que uma palavra que
pra mim parece banal, pro outro pode ser o céu ou o inferno. Aprendi coisas de
mais que nenhuma outra pessoa pode entender do mesmo jeito que eu entendi. Talvez
ninguém entenda essa nossa jornada, talvez só nós possamos entender. Mas acho
que já basta.











