Ao
Alex, músico de práxis e de coração.
Ao
fundo, Bach. Na cabeça, Barrios. Parecia que agora a vida de Bruno baseava-se
nossp: música. Não que fosse algo ruim, é o que ele queria. O violão na mão e
as notas saiam com o movimento dos dedos e o vibrar das cordas, não havia
sensação melhor.
Acima
de todos os problemas, ele sabia que o sonho era maior. “Sonhos são feitos de
possibilidades”, pensava Bruno. “A vida, uma sequência de acertos e erros”.
Talvez sua vida não pudesse ser de qualquer outra forma, nascido e criado na
Bela Vista, em seu sangue corria a musica e a determinação.
Aquele
fim de tarde era chuvoso e frio, o sono e a preguiça estavam pesando, mas a
determinação falava mais alto. Era um dia importante, seu primeiro concerto
solo, pequeno, mas ainda assim, pessoas estariam lá para ouvi-lo. Ele deu até
logo à irmã, colocou o violão nas costas e saiu, pediu um táxi. A passagem de
som na pequena casa de shows no Largo do Arouche foi tranquila.
Conforme
o horário se aproximava, mais Bruno ficava nervoso. Seu celular vibrou, uma
mensagem de seu amigo Gabriel: “Já estamos aqui! Primeira fileira! Destrua!”.
Ele sentiu uma pontada de confiança.
O
apresentador da noite falou algumas poucas besteiras e logo chamou seu nome o
apresentando como uma das maiores revelações do violão clássico da cena de São
Paulo. Uma lufada de ansiedade o invadiu, como se um balde de água fria e um
sopro de vento gelado os atingisse de uma vez. ele fechou os olhos, respirou
fundo e entrou no palco ao som de uma salva de palmas que logo silenciou. Bruno
observou sua modesta plateia, viu alguns rostos conhecidos espalhados, sabia
que alguns eram jornalistas e críticos, ele ficou nervoso, mas se lembrou do
conselho de Gabriel “Toque para você, não para eles”. Vários rostos novos e ali
na primeira fileira Gabriel e sua irmã sorriam. Ele sorriu de volta e disse um
tímido “boa noite” no microfone, fechou os olhos mais uma vez e começou a
tocar.
A
grandiosa “Último Canto” de Barrios começou a soar daquele único violão, não se
ouvia absolutamente mais nada, pelo menos ele não conseguia, estava tão
concentrado se certificando para não errar absolutamente nada. Além dá música,
o único outro som que ele podia ouvir era de seu coração, as batidas agora
pareciam uma segunda voz para a canção. Em sua mente ele via a velha pobre
pedindo uma esmola a um músico já no final de sua vida e, ao invés de dinheiro
ou comida, recebendo o maior presente, a melhor esmola que um ser humano poderia ganhar: uma música
feita para ela.
Ao
soar da última nota, Bruno abriu os olhos quase que ao mesmo tempo que a
plateia se levantou aplaudindo, ele parado no palco sem saber o que fazer,
agradecia de todas as formas que podia. “Foi só a primeira vez”, ele pensou e
sorriu agradecendo.
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