domingo, 8 de março de 2015

R.E.S.P.E.C.T



À todas as mulheres, em todos os sentidos.

“Não se nasce mulher; Torna-se mulher” (Simone de Beauvoir, O Segundo Sexo, Vol. 2, p.9).

Monica, 21 anos, universitária, estudante de Engenharia de Produção. Todos os dias na sala de aula, ela se sentia completamente fora de seu mundo, em sua sala apenas homens, garotinhos da mamãe acostumados a ter sempre tudo o que quisessem, e o que eles queriam diariamente era Monica. E ela nunca os quis. Foram cinco anos lutando por seu lugar ao sol, no mercado de trabalho a coisa era ainda pior. Sempre que ia a uma entrevista de emprego, comentários como “você é muito bonita, deveria estar numa passarela”, ou “você tem certeza que não comprou seu diploma?”. Quando conseguia o cargo desejado, descobria que seu salário ainda seria menor do que os companheiros masculinos.

Janaína, 18 anos, estudante do Ensino Médio de uma escola pública de São Miguel Paulista, negra (como se isso devesse importar alguma coisa). Janaína gostava de sair para dançar à noite desde os 16 anos, ela gostava de beber e se divertir. Uma noite, ela bebeu um pouco de mais, foi estuprada por três rapazes de sua escola na pista de dança, ninguém fez nada. Afinal, os comentários na escola foram de que os meninos não tinham culpa, eles haviam sido provocados. Janaína não se dava ao respeito. Um mês depois, descobriu que estava grávida, seus pais a expulsaram de casa.

Tatiana, 33 anos, transexual, antigamente costumava ser Carlos, mas nunca se sentiu menino, por isso transformou-se, ou simplesmente assumiu sua verdadeira identidade. Antes e depois disso, poucas coisas mudaram. Ela sempre enfrentou o preconceito latente da sociedade, a hipocrisia judaico-cristã que diz que “Deus criou Adão e Eva e o homem é feito para a mulher e a mulher para o homem”, ou que “homem é homem e mulher é mulher”. Ela nunca viu nada tão definido, afinal, o que é definido na vida? Uma noite, voltando pra casa de uma balada, um grupo de homens escondidos no escuro percebeu a presença de Tatiana, eles a espancaram no meio da rua, apesar de todos os gritos, a vizinhança fingiu não ouvir nada.

Mariana, 44 anos, mãe de um filho de 5 anos, casada há sete anos, professora universitária. Mora no bairro de Higienópolis e tem um apartamento próprio. Ela começou a estudar na universidade aos dezoito anos e nunca mais parou. Saiu da Graduação e emendou o Mestrado, Doutorado, Pós-Doutorado. É amada por todos os seus alunos, tem a vida que todo ser humano sempre quis, se não fosse pelos atos violentos de seu marido. Ele bate nela desde que completaram dois anos de casados, quando o filho nasceu. Todos os dias ela sente medo, todos os dias ela vai ao trabalho pensando nisso e prefere deixar isso na rua, quando entra em sala, todos os seus problemas desaparecem.

Monica se cansou de ganhar menos que os homens em sua área, abriu sua própria empresa e hoje paga o mesmo salário aos seus funcionários, independente do gênero.

Janaína tinha algumas opções: ela poderia acabar com sua própria vida ou poderia acabar com a gravidez e se reconstituir. Ela fez um aborto – mesmo correndo todos os riscos do aborto não legalizado -, terminou a escola, trabalhou, passou a morar com amigos, encontrou um cara legal que gostava dela, passaram a morar juntos, ela estudou muito, fez quatro anos de cursinho e passou em Medicina na USP. Hoje é casada com aquele cara legal e tem uma vida muito boa, obrigado. Nunca mais falou com os pais, mas nunca deixou de atender as meninas de São Miguel Paulista.

Tatiana ficou estirada na calçada por cerca de duas horas sangrando. Um rapaz que saía de um bar, por volta das quatro da manhã a encontrou ali e a levou para o hospital, ela estava quase sem sentidos quando viu o rosto dele e o agradeceu. Ele foi o primeiro homem que havia sido gentil com ela em sua vida. Ela faleceu antes de chegar ao hospital devido a hemorragia, os agressores agrediram muitas outras mulheres como ela ou não. O rapaz que a ajudou, se o céu existe, certamente tem um lugar reservado por lá.

Mariana chegou em casa um dia recebida por uma bofetada na cara, na frente de seu filho. Ela se cansou, empurrou o marido, gritou com ele, arrumou suas coisas e as de seu filho, colocou tudo no carro, alugou um pequeno apartamento perto da universidade e pediu o divórcio. Foi mãe solteira, criou o filho sozinho e nunca se arrependeu de sua decisão.




Mulheres estão em todos os lugares, elas não são definidas pelo seu sexo biológico ou pela condição social a qual são colocadas por uma sociedade machista. Elas têm todas as cores, tamanhos, raças e orientações sexuais. Elas todas merecem respeito. Nenhuma mulher é igual a outra, não há uma mulher essencial e universal, mas várias mulheres que lutam por serem reconhecidas e respeitadas como iguais aos homens. A essas mulheres, todo o meu respeito, admiração, dedicação e militância aos seus direitos. O feminismo, o problema de gênero também concerne a mim. 

Nenhum comentário:

Postar um comentário