terça-feira, 24 de fevereiro de 2015

O Sinal



À Dayse, exemplo e inspiração para todas as aulas que eu der em vida,

À Mara, por dar um gás pedagógico toda vez que eu perco o meu,

Ao Emiliano, por ser a resistência em pessoa que é,

Ao Carlos, por ser companheiro, amigo, historiador e professor pra mim,

Ao Alan, porque acima de toda a dificuldade, permanece sorrindo,


Aos professores do Brasil, os que se importam, resistamos e não deixemos que o sinal continue a tocar.

-Quarenta e cinco anos na sala de aula ensinando gerações e gerações, formando médicos, advogados, artistas... Todo tipo de gente. O senhor não acha que o professor deveria ser melhor reconhecido e valorizado, como no caso dessa senhora que saiu nos jornais, Governador?

O apresentador parecia sério ao fazer aquela pergunta, parecia se importar realmente com aquilo. Talvez ele tenha tido um professor que transformou algo em sua vida. o Governador sorriu, deu uma leve risada e disse:

-Professor tem que dar aula porque ama. Já não é reconhecimento e valorização bastante saber que forma tantas outras profissões?

Dalva decidiu que não queria mais ver aquela entrevista, certamente o Governador esqueceu-se dos professores que o fizeram chegar a seu cargo ou, talvez, simplesmente não se importasse. Ela desligou a televisão se perguntando por que tinha ficado acordada até uma hora da manhã, no dia seguinte tinha que estar na escola as sete, daria seis aulas de manhã mais quatro aulas à tarde em busca de seu desajustado salário de fome.

A professora fechou os olhos e as palavras daquele homem desprezível ecoavam em sua mente: “Professor tem que dar aula porque ama”. O relógio despertou, parecia que ela tinha apenas piscado e a noite passara. Enquanto se vestia rapidamente, repassava na cabeça as aulas preparadas para aquele dia, enquanto preparava o café, pensava naquele nono ano com cinquenta alunos frequentes na lista, entre eles aquele menino com metade do cérebro paralisado.

Chegou na escola ofegante com o sorriso inquebrável nos lábios, cumprimentou os colegas na sala dos professores. Sentou-se para descansar do esforço que fizera para subir a ladeira, afinal já estava na casa dos sessenta, não tinha mais os vinte e poucos anos de quando começou a lecionar.

A maior parte das conversas entre os colegas estavam centradas em suas próprias vidas pessoais, outras reclamavam de como aqueles alunos eram desleixados e como quando era sua época de estudantes, tudo era diferente, o problema da escola está centrado no aluno, o jornal jogado na grande mesa dizia que o problema estava, naquele momento, dizendo que o problema verdadeiro era outro. Um grupo de professores mais novos debatiam com animação sobre a entrevista do Governador durante a madrugada. Esse grupo de cinco professore chamou a atenção de Dalva, ela pensou em concordar quando um deles disse como o Governador deveria ser deposto e que não entendia como um ser daqueles fora reeleito em primeiro turno, mas antes que pudesse tomar fôlego para falar, o sinal tocou e quase que de forma mecânica ela pegou suas coisas e subiu para a sala. Subiu pensando em como algo ainda podia ser feito, em como realmente amava o que fazia, mas como gostaria de pagar suas contas fazendo o que ama, como seus alunos também estavam sendo prejudicados, e esperou que grupos de professores como aquele pudessem fazer algo.

Vários outros sinais tocaram, como sempre foi, mas nada mudou...

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