À Dayse, exemplo e inspiração para todas
as aulas que eu der em vida,
À Mara, por dar um gás pedagógico toda
vez que eu perco o meu,
Ao Emiliano, por ser a resistência em
pessoa que é,
Ao Carlos, por ser companheiro, amigo,
historiador e professor pra mim,
Ao Alan, porque acima de toda a
dificuldade, permanece sorrindo,
Aos professores do Brasil, os que se
importam, resistamos e não deixemos que o sinal continue a tocar.
-Quarenta
e cinco anos na sala de aula ensinando gerações e gerações, formando médicos,
advogados, artistas... Todo tipo de gente. O senhor não acha que o professor
deveria ser melhor reconhecido e valorizado, como no caso dessa senhora que
saiu nos jornais, Governador?
O
apresentador parecia sério ao fazer aquela pergunta, parecia se importar
realmente com aquilo. Talvez ele tenha tido um professor que transformou algo
em sua vida. o Governador sorriu, deu uma leve risada e disse:
-Professor
tem que dar aula porque ama. Já não é reconhecimento e valorização bastante
saber que forma tantas outras profissões?
Dalva
decidiu que não queria mais ver aquela entrevista, certamente o Governador
esqueceu-se dos professores que o fizeram chegar a seu cargo ou, talvez,
simplesmente não se importasse. Ela desligou a televisão se perguntando por que
tinha ficado acordada até uma hora da manhã, no dia seguinte tinha que estar na
escola as sete, daria seis aulas de manhã mais quatro aulas à tarde em busca de
seu desajustado salário de fome.
A
professora fechou os olhos e as palavras daquele homem desprezível ecoavam em sua
mente: “Professor tem que dar aula porque ama”. O relógio despertou, parecia
que ela tinha apenas piscado e a noite passara. Enquanto se vestia rapidamente,
repassava na cabeça as aulas preparadas para aquele dia, enquanto preparava o
café, pensava naquele nono ano com cinquenta alunos frequentes na lista, entre
eles aquele menino com metade do cérebro paralisado.
Chegou
na escola ofegante com o sorriso inquebrável nos lábios, cumprimentou os
colegas na sala dos professores. Sentou-se para descansar do esforço que fizera
para subir a ladeira, afinal já estava na casa dos sessenta, não tinha mais os
vinte e poucos anos de quando começou a lecionar.
A
maior parte das conversas entre os colegas estavam centradas em suas próprias
vidas pessoais, outras reclamavam de como aqueles alunos eram desleixados e
como quando era sua época de estudantes, tudo era diferente, o problema da
escola está centrado no aluno, o jornal jogado na grande mesa dizia que o
problema estava, naquele momento, dizendo que o problema verdadeiro era outro.
Um grupo de professores mais novos debatiam com animação sobre a entrevista do
Governador durante a madrugada. Esse grupo de cinco professore chamou a atenção
de Dalva, ela pensou em concordar quando um deles disse como o Governador
deveria ser deposto e que não entendia como um ser daqueles fora reeleito em
primeiro turno, mas antes que pudesse tomar fôlego para falar, o sinal tocou e
quase que de forma mecânica ela pegou suas coisas e subiu para a sala. Subiu pensando
em como algo ainda podia ser feito, em como realmente amava o que fazia, mas
como gostaria de pagar suas contas fazendo o que ama, como seus alunos também
estavam sendo prejudicados, e esperou que grupos de professores como aquele
pudessem fazer algo.
Vários
outros sinais tocaram, como sempre foi, mas nada mudou...

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