terça-feira, 17 de fevereiro de 2015

Pânico Paulista


À Raissa, minha pequena lutadora.

Cada dia que se passava, a ansiedade de Daniela crescia de uma forma assustadora. Todas as coisas a inquietavam. Desde a política do país até as idas e vindas de sua própria vida. o fim de seu namoro de cinco anos havia acontecido há pouquíssimo tempo e ela ainda não sabia muito bem como lidar com isso. Por duas semanas, todos os dias, ela acordou e olhou no espelho dizendo a si mesma “Seja forte. Acredite”. Talvez, se repetisse isso todos os dias, acabaria sendo verdade, ela pensava.

Certa noite, ela decidiu sair, voltar ao mundo, lembrar o que era se divertir com os amigos, sem ter que prestar contas a ninguém... Já não sabia o que era isso por tempo demais. A Rua Augusta era o melhor lugar para se lembrar, parecia que um novo mundo de possibilidades se abria diante dela, repleto de possibilidades, não de amor, mas apenas possibilidades.

-Amiga, fica tranquila! Divirta-se! Você merece muito! – dizia Claudia, sua amiga de longa data abraçando-a, já meio alta com a vodka que elas bebiam.

-Eu to tranquila, amiga! Vou me divertir! – Daniela garantiu sem pensar duas vezes antes de beber mais um gole de vodka.

Seja lá quem foi que inventou o álcool fez a coisa bem de mais. Ele liberta, alegra, por um período de tempo curto. É passageiro, efêmero, como a maioria das coisas são na vida, mas sempre ajuda. Mas depois ele acaba sendo como o amor: você fica no fundo, largado, derrotado e perdido naquela ressaca que pede água o tempo todo, água pra desafogar o que for possível.

Já devia ser por volta das quatro da manhã, numa noite quente de Janeiro, quando Daniela decidiu que era hora de parar. Estava tentando manter uma conversa com um dos amigos que ali estavam, Marcos.

-Vou te falara, Dani... Só tem dois tipos de pessoas no mundo: as que entretém e as que observam... Qual delas nós queremos ser? – dizia o rapaz com a voz arrastada também do álcool.

-Quero ser a que entretém, Marcos! – respondeu Daniela rindo enquanto abraçava o amigo. Sua cabeça girava e as luzes em neon da Augusta pareciam muito mais brilhantes que antes, ela olhou para o outro lado da rua e pensou ter lido num neon vermelho Insônia Café e uma menina loura com uma camiseta vermelha entrando, quando voltou a olhar, o lugar não estava mais lá.

-Você tá legal, Dani? – perguntou Marcos ainda abraçando a amiga que havia ficado quieta.

-Eu to bem. Só meio zonza.

Era mentira. Dentro dela parecia que tudo estava se tornando gelo sólido e quebrava a cada fôlego que era tomado.  Era um pânico indescritível. Ninguém poderia entender aquilo, cada um sabe de sua própria dor e não há o que se possa dizer para os outros conseguirem entender isso. Ela repetia para si mesma: “Você tem que perder para saber como se ganha. Seja Forte. Acredite. Tudo vai acabar dando certo, não importa o que aconteça. Não é o fim do mundo, Daniela! Eu posso viver sem ele, eu posso viver sozinha se eu quiser! Sei que posso”.

Parecia que ela estava dormindo agora, havia cores por todos os lados e elas brilhavam de todas as formas possíveis. Ela se viu com Claudia e Marcos sentados na escadaria da Gazeta, Claudia dizia:

-A vida é uma cachoeira, amiga! – e ela estava iluminada.

-Você é forte, é guerreira, lutadora! – os olhos verdes de Marcos brilhavam como dois faróis coloridos que iluminavam a distância.

O sol nasceu e ela estava em sua casa, em sua cama, e como num passe de mágica, o pânico havia desaparecido de seu peito. Talvez ele voltasse, mas tudo estaria bem. Tudo iria terminar bem.


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