À Raissa, minha pequena lutadora.
Cada
dia que se passava, a ansiedade de Daniela crescia de uma forma assustadora. Todas
as coisas a inquietavam. Desde a política do país até as idas e vindas de sua
própria vida. o fim de seu namoro de cinco anos havia acontecido há pouquíssimo
tempo e ela ainda não sabia muito bem como lidar com isso. Por duas semanas,
todos os dias, ela acordou e olhou no espelho dizendo a si mesma “Seja forte.
Acredite”. Talvez, se repetisse isso todos os dias, acabaria sendo verdade, ela
pensava.
Certa
noite, ela decidiu sair, voltar ao mundo, lembrar o que era se divertir com os
amigos, sem ter que prestar contas a ninguém... Já não sabia o que era isso por
tempo demais. A Rua Augusta era o melhor lugar para se lembrar, parecia que um
novo mundo de possibilidades se abria diante dela, repleto de possibilidades,
não de amor, mas apenas possibilidades.
-Amiga,
fica tranquila! Divirta-se! Você merece muito! – dizia Claudia, sua amiga de longa
data abraçando-a, já meio alta com a vodka que elas bebiam.
-Eu
to tranquila, amiga! Vou me divertir! – Daniela garantiu sem pensar duas vezes
antes de beber mais um gole de vodka.
Seja
lá quem foi que inventou o álcool fez a coisa bem de mais. Ele liberta, alegra,
por um período de tempo curto. É passageiro, efêmero, como a maioria das coisas
são na vida, mas sempre ajuda. Mas depois ele acaba sendo como o amor: você
fica no fundo, largado, derrotado e perdido naquela ressaca que pede água o
tempo todo, água pra desafogar o que for possível.
Já devia
ser por volta das quatro da manhã, numa noite quente de Janeiro, quando Daniela
decidiu que era hora de parar. Estava tentando manter uma conversa com um dos
amigos que ali estavam, Marcos.
-Vou
te falara, Dani... Só tem dois tipos de pessoas no mundo: as que entretém e as
que observam... Qual delas nós queremos ser? – dizia o rapaz com a voz
arrastada também do álcool.
-Quero
ser a que entretém, Marcos! – respondeu Daniela rindo enquanto abraçava o
amigo. Sua cabeça girava e as luzes em neon da Augusta pareciam muito mais
brilhantes que antes, ela olhou para o outro lado da rua e pensou ter lido num
neon vermelho Insônia Café e uma
menina loura com uma camiseta vermelha entrando, quando voltou a olhar, o lugar
não estava mais lá.
-Você
tá legal, Dani? – perguntou Marcos ainda abraçando a amiga que havia ficado
quieta.
-Eu to
bem. Só meio zonza.
Era
mentira. Dentro dela parecia que tudo estava se tornando gelo sólido e quebrava
a cada fôlego que era tomado. Era um
pânico indescritível. Ninguém poderia entender aquilo, cada um sabe de sua
própria dor e não há o que se possa dizer para os outros conseguirem entender
isso. Ela repetia para si mesma: “Você tem que perder para saber como se ganha.
Seja Forte. Acredite. Tudo vai acabar dando certo, não importa o que aconteça. Não
é o fim do mundo, Daniela! Eu posso viver sem ele, eu posso viver sozinha se eu
quiser! Sei que posso”.
Parecia
que ela estava dormindo agora, havia cores por todos os lados e elas brilhavam
de todas as formas possíveis. Ela se viu com Claudia e Marcos sentados na
escadaria da Gazeta, Claudia dizia:
-A
vida é uma cachoeira, amiga! – e ela estava iluminada.
-Você
é forte, é guerreira, lutadora! – os olhos verdes de Marcos brilhavam como dois
faróis coloridos que iluminavam a distância.
O sol
nasceu e ela estava em sua casa, em sua cama, e como num passe de mágica, o
pânico havia desaparecido de seu peito. Talvez ele voltasse, mas tudo estaria
bem. Tudo iria terminar bem.
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