Minha lua, Marina, que me guiou pelas noites mais
escuras, por cinco anos.
Fazia
por volta dos 30 graus na zona Leste de São Paulo naquela noite. Uma jovem
professora de filosofia terminava, enfim, de corrigir a última das centenas de
provas mal-escritas que tinha trazido da escola para casa. Sua escrivaninha
tinha uma vista privilegiada, direto para o céu e a lua minguante que brilhava
prateada lá em cima.
Jenifer
descansou a caneta vermelha e, sorrindo, olhou a lua apoiando a cabeça com as
duas mãos. “Parece um farol enorme, que está lá pra guiar quem está perdido
pela noite. Será que...?”. O pensamento que ocorreu a elaera lindo de mais para
ser pensado.
Qualquer
homem ou mulher que visse a pele escura de Jenifer brilhar sob a luz da lua,
acreditaria que se tratava de uma deusa, a Rainha da Serenidade. Não importava
afinal, pois ela só tinha olhos para seu recém-marido. Vinicius estava dormindo
no quarto ao lado. Ela foi até lá apenas para olhá-lo, contemplá-lo. “Como tenho
sorte”, ela pensou sorrindo.
Voltou
silenciosamente para sua escrivaninha e ficou contemplando seu astro preferido.
A lua lhe trazia tanta calma, ao mesmo tempo que lhe parecia nostálgica. Ela passou
a mão na sua tatuagem do pulso, uma pequena lua. No fundo, ela não sabia onde,
bem baixinho, começava uma canção que era forte, linda, triste, a letra
cantava: “De todo o amor que eu
tenho/Metade foi tu que me deu/Salvando minha alma da vida/Sorrindo e fazendo
meu eu”, Jenifer fechou os olhos conforme a música seguia.
***
Uma
linda mulher, negra como ela, vestida no mais belo dos vestidos, prateado,
parecia feito de cristal transformado em tecido, com a graça de uma rainha
dançava com a música, no meio da lua, no meio do Mar da Serenidade. Ela jamais
poderia esquecer aquele sorriso.
-Mãe?
– disse Jenifer com a voz embargada.
-Filha...
– respondeu ela calma e sorrindo enquanto continuava a dançar.
-Mãe,
que saudade da senhora! – as lágrimas escorriam naturalmente.
-Fica
bem, filha. Fica forte. – ela continuava a dançar e sorrir – Tudo se ajusta.
Agora
parecia que ela estava mais longe, Jenifer tentou correr em sua direção, mas
parecia pesada. A mãe sorriu, como mágica a alcançou, a pegou pela mão e
começaram a dançar juntas ao que pareceu à professora alguns segundos apenas,
segundos que poderiam durar uma eternidade. Ela beijou a filha no rosto e mais
uma vez estava longe.
-Mãe,
não vai embora!
-Te
amo, filha!
“Me mostre um caminho agora/Um jeito de
estar sem você/O apego não quer ir embora/Diacho, ele tem que querer”.
Sua
mãe, linda e brilhante como uma deusa, se tornava um enorme astro prateado no
céu entre milhares de estrelas que brilhavam, enquanto isso, Jenifer se
afastava, afastava...
***
-Amor?
– ela ouviu Vinicius chamar.
-Mãe?
– disse ela acordando confusa em sua escrivaninha, o sol batendo em seu rosto.
-Sou
eu, amor. Você deve ter dormido enquanto trabalhava.
-Acho
que sim...
-Tá
tudo bem? – ele parecia preocupado pelo fato da esposa ter chamado a mãe.
Ela
parou um instante tentando marcar a imagem de sua mãe dançando na lua, não
queria esquecer nunca mais.
-Sim,
amor – ela sorriu – Eu estava dançando na lua com a minha mãe.
Vinicius
não entendeu, mas mesmo assim sorriu e a beijou nos lábios. Jenifer sabia:
afinal, havia vida na lua.
Todos os direitos da música reservados.
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