sexta-feira, 20 de fevereiro de 2015

Dançando na Lua

Minha lua, Marina, que me guiou pelas noites mais escuras, por cinco anos.

Fazia por volta dos 30 graus na zona Leste de São Paulo naquela noite. Uma jovem professora de filosofia terminava, enfim, de corrigir a última das centenas de provas mal-escritas que tinha trazido da escola para casa. Sua escrivaninha tinha uma vista privilegiada, direto para o céu e a lua minguante que brilhava prateada lá em cima.

Jenifer descansou a caneta vermelha e, sorrindo, olhou a lua apoiando a cabeça com as duas mãos. “Parece um farol enorme, que está lá pra guiar quem está perdido pela noite. Será que...?”. O pensamento que ocorreu a elaera lindo de mais para ser pensado.

Qualquer homem ou mulher que visse a pele escura de Jenifer brilhar sob a luz da lua, acreditaria que se tratava de uma deusa, a Rainha da Serenidade. Não importava afinal, pois ela só tinha olhos para seu recém-marido. Vinicius estava dormindo no quarto ao lado. Ela foi até lá apenas para olhá-lo, contemplá-lo. “Como tenho sorte”, ela pensou sorrindo.

Voltou silenciosamente para sua escrivaninha e ficou contemplando seu astro preferido. A lua lhe trazia tanta calma, ao mesmo tempo que lhe parecia nostálgica. Ela passou a mão na sua tatuagem do pulso, uma pequena lua. No fundo, ela não sabia onde, bem baixinho, começava uma canção que era forte, linda, triste, a letra cantava: “De todo o amor que eu tenho/Metade foi tu que me deu/Salvando minha alma da vida/Sorrindo e fazendo meu eu”, Jenifer fechou os olhos conforme a música seguia.

***

Uma linda mulher, negra como ela, vestida no mais belo dos vestidos, prateado, parecia feito de cristal transformado em tecido, com a graça de uma rainha dançava com a música, no meio da lua, no meio do Mar da Serenidade. Ela jamais poderia esquecer aquele sorriso.

-Mãe? – disse Jenifer com a voz embargada.

-Filha... – respondeu ela calma e sorrindo enquanto continuava a dançar.

-Mãe, que saudade da senhora! – as lágrimas escorriam naturalmente.

-Fica bem, filha. Fica forte. – ela continuava a dançar e sorrir – Tudo se ajusta.

Agora parecia que ela estava mais longe, Jenifer tentou correr em sua direção, mas parecia pesada. A mãe sorriu, como mágica a alcançou, a pegou pela mão e começaram a dançar juntas ao que pareceu à professora alguns segundos apenas, segundos que poderiam durar uma eternidade. Ela beijou a filha no rosto e mais uma vez estava longe.

-Mãe, não vai embora!

-Te amo, filha!

“Me mostre um caminho agora/Um jeito de estar sem você/O apego não quer ir embora/Diacho, ele tem que querer”.

Sua mãe, linda e brilhante como uma deusa, se tornava um enorme astro prateado no céu entre milhares de estrelas que brilhavam, enquanto isso, Jenifer se afastava, afastava...

***

-Amor? – ela ouviu Vinicius chamar.

-Mãe? – disse ela acordando confusa em sua escrivaninha, o sol batendo em seu rosto.

-Sou eu, amor. Você deve ter dormido enquanto trabalhava.

-Acho que sim...

-Tá tudo bem? – ele parecia preocupado pelo fato da esposa ter chamado a mãe.

Ela parou um instante tentando marcar a imagem de sua mãe dançando na lua, não queria esquecer nunca mais.

-Sim, amor – ela sorriu – Eu estava dançando na lua com a minha mãe.


Vinicius não entendeu, mas mesmo assim sorriu e a beijou nos lábios. Jenifer sabia: afinal, havia vida na lua.






Todos os direitos da música reservados.

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