Julho de 2014.
À Christina, a voz da minha vida. Please, never stop.
O
dia estava frio, mas o céu muito azul, algumas nuvens recortando aquela
imensidão toda. Cristina estava deitada, olhando para tudo aquilo, seus olhos
se mesclavam com a cor do titã que permanecia onipresente lá em cima. Beleza
pura... Tudo seria tão lindo, tão mágico, se ao menos... Não, não havia ao
menos. Cristina sabia que ela deveria se manter feliz, forte. Era sortuda,
cantava nos musicais que queria, tinha amigos insubstituíveis, tudo que ela
sempre quis. Com exceção dele. Ah, aquele rapaz que quebrou seu coração. Mais
um, aliás. Mas aquele – como qualquer último ex-caso -, havia sido o pior de
todos. Despedaçara aquele leve e sorridente coração, como se fosse um pedaço de
vidro. Forte, mas tão frágil. Talvez a fortaleza seja mesmo muito mais frágil do
que se pode imaginar.
Ela
fechou os olhos, Cazuza cantava com sua voz rasgada em seus ouvidos: “Que só eu que podia/Dentro da tua orelha
fria/Dizer segredos de liquidificador/Você sonhava acordada/Um jeito de não
sentir dor/Prendia o choro e aguava o bom do amor”. Ela se lembrou da
primeira vez que ouvira – ou que prestara atenção – na voz de Cazuza. Devia ter
uns doze anos, estava passando por várias mudanças, e tudo parecia fora de
lugar. Uma menina da escola em que acabara de entrar resolveu cantar aquela
música pra ela, provavelmente pra puxar assunto, para que ela se sentisse mais
confortável. Cantou “Exagerado”, de forma exagerada e infantil, provavelmente
sem perceber os duplos sentidos que a letra levava. Daí Cristina procurou, e
conheceu. E se identificou, afinal, não havia exagero maior que o dela.
E
as lembranças foram fluindo com a música, ela se lembrou da primeira vez que o
conheceu, no meio daquele mesmo parque onde estava agora, sentada num banco.
Tudo muito clichê. Ele olhou pra ela e sorriu, ela retribuiu porque achou seu
sorriso bonito.
-Boa
tarde. – ele disse ainda com aquele maldito sorriso no rosto.
-Boa
tarde. – ela respondeu, completamente sem graça.
Quem
diria? Um simples “bom tarde” correspondido pode mudar uma vida inteira. Isso é
injusto, concluiu ela. Deveríamos ter uma espécie de poder pra pressentir que
não ia dar certo, porque não deu. Depois de quase um ano de relacionamento,
entre choros e brigas, uma boa dose de ciúmes (dela) e de obsessão (também
dela), ele fez o que qualquer outro homem provavelmente faria a traiu. Pelo
menos não foi com nenhuma melhor amiga. Mas amor é uma coisa engraçada,
diferente. Chega a ser muito estranha. Mesmo depois que ele é destruído – por
ambos os lados, porque ele nunca se autodestrói de um lado só -, parece que não
acaba. Permanece. Fica feito lembrança. “Fica feito tatuagem sobre a pele”,
como diria Gil via Elis. E tudo parece louco.
Chega
um dia que parece que faz tanto tempo, você dá risada. Mas ainda está lá.
Protegido em um codinome. Não sai mais dali, só vai embora e desaparece quando
ambos tiverem sumido do mundo. Aí, ainda sobra um resquício, naqueles que viram
tudo acontecer e que, porventura, sobraram vagando pelas andanças desse mundo.
É, Cristina ainda é exagerada. Ainda se emociona mais do que deveria e deixa os
sentimentos fluírem de mais. Mas, São Paulo ajuda. Enfim, a música terminou.
Ela levantou e saiu... Afinal, o tempo ia passar aquilo não ia sumir e ela
aprenderia a viver com tudo aquilo.
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