Dizem por aí que o Capitalismo é o sistema das
oportunidades, isso se resumiria no American
Dream, dizem que é o único sistema que possibilita que o ser humano possa
conquistar suas glórias, coleciona-las ao decorrer da vida, o sistema em que
você será, acima de tudo, livre. Dizem, dizem, dizem... Eles não sabem o que
dizem, perdoe-nos Jesus.
Escolhi ser professor e quando fiz essa escolha não sabia
que amaria minha profissão como amo. Amo dar aula, quando estou dentro de uma
sala de aula eu simplesmente faço aquilo que tenho que fazer: produzo
pensamentos. Essa, aliás, é o único tipo de produção que o Capitalismo
despreza, porque o pensamento pelo pensamento, pela crítica, não é revertido em
dinheiro. Ninguém enriquece quando os jovens da periferia estão pensando, pelo
contrário, eles tremem. Minha função (e isso deveria estar escrito nas minhas
atribuições) é fazer os grandes tremerem.
Ninguém sabe o que é ser professor, a não ser que o seja.
Ninguém sabe em quantos nós nos desdobramos. Eu pelo menos me desdobro em 50 se
tenho 50 alunos na sala. Aliás, 51, porque tenho que deixar um pra mim. Já
cansei de falar como meus alunos são oprimidos, mas e eu? Eu também sou. E
muito. Gostaria de compartilhar com todos vocês meu salário para o mês de
Setembro:
Sim, é isso mesmo. O valor é R$537, você não leu errado,
não tem um número 1 faltando na frente. Isso é o que o professor ganha no
Estado de São Paulo, menos que um salário mínimo. Meus alunos esperam algo de
mim, da mesma forma que espero deles. Eu tenho a sorte de saber me comunicar
com esses jovens e, por isso, eles esperam muito mais de mim do que de meus
colegas. Eles esperam que a minha aula seja a melhor aula que eles terão
naquele dia, no meio dos escombros de um prédio que chamam de escola. De onde
eu tiro as forças para dar a eles o que esperam de mim? Será que o Governador
sabe quanto custa uma passagem de ônibus/metrô hoje? Hoje, terça feira, tenho
aula nos períodos da manhã e da noite, por isso acabo gastando quatro
passagens. Aliás, se não fosse o Bilhete Único Mensal feito pelos “petralhas
ladrões”, eu poderia trabalhar apenas duas semanas com esse salário, o resto do
mês, não me sobraria dinheiro para ir à padaria.
Estou pensando há vinte e quatro horas se continuo me
submetendo à tamanha humilhação por parte do Governo, por parte da sociedade
(sim, vocês mesmos que reclamaram da nossa Greve todas as sextas-feiras porque
estávamos atrapalhando sua volta para casa na Paulista), o que mais me dói é
quando escuto de um aluno excelente um “a aula foi muito boa, professor”, isso
é um enorme paradoxo: ao mesmo tempo que é gratificante, é dolorido. Meus
alunos, às vezes, me veem como um herói e eu descobri que não quero ser visto
como um herói, o que quero é ser valorizado pelo meu estudo, pelo meu esforço.
Quero receber o valor que eu dou aos meus alunos. Mas não estamos no sistema
mais justo de todos? Eu estudei quatro anos algo que as pessoas veem como um
bicho de sete cabeças tamanha a complexidade, tenho dois diplomas (um de
Bacharelado e um de Licenciatura), estou para começar um Mestrado numa
Universidade Federal e recebo menos que um salário mínimo? Aliás, muitos dos
meus alunos que mal conseguem ler e escrever, recebem mais que eu.
O coração parte, mas terminarei o ano e só esse ano. Não
pretendo voltar a lecionar no Estado de São Paulo enquanto esse regime de
escravidão sobre o professor não terminar. Me recuso enquanto o Governador
desse Estado for um mau caráter de marca maior que nos deixa sem água, sem
educação, sem dignidade. Me recuso enquanto o povo desse Estado continuar
preferindo o carro (ou seja, o próprio umbigo) à água (ou seja, o bem de
todos). Sinto pelos que precisam de mim, mas eu não consigo mais continuar.

😭 não pare sua aula é a melhorr
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