terça-feira, 28 de julho de 2015

Notas da Madrugada #2 - Medos

Quando minha mãe descobriu que tínhamos câncer, não tivemos muito tempo para digerir a ideia. O câncer de mama, e já estava num estado avançadíssimo. A cirurgia foi marcada para dali algumas semanas (duas, se não me engano). Eu tinha quase dezoito anos, e aos dezoito anos nós acreditamos sermos invencíveis. Isso pode soar muito egoísta, mas é a verdade na mente de um adolescente terminando o ensino médio: não era comigo. Eu mantive a calma. Aliás, eu era uma pessoa muito estourada naquela época, não conseguia segurar absolutamente nada, mas isso eu segurei, segurei muito.

Lembro que chorei apenas quando estava sozinho, na noite em que minha mãe foi internada antes de fazer a cirurgia. Minha irmã ficou no hospital com ela o tempo inteiro e eu não deixei que meu pai viesse para nossa casa dormir comigo, afinal, eu iria para a escola no dia seguinte. Minha família iria chegar, e eu tinha meu cachorro. Não precisava ficar com alguém. Mesmo assim, não dormi no quarto naquela noite. Levei o colchão para a sala e devo ter assistido a algum filme na TV até ficar com sono e conseguir dormir (esse processo tem sido bem complicado para mim desde 2008). A cirurgia foi um sucesso e todo o pós-operatório, completamos cinco anos e nem um resquício de câncer na mulher mais forte que já conheci e que tenho o imenso prazer e honra de poder chamar de mãe.


Demorou algum tempo para que a ficha caísse e eu entendesse que aquele fora um contato com a finitude humana, talvez o primeiro – provavelmente o pior que uma pessoa possa ter: o de perder a mãe. Eu me considero uma daquelas pessoas muito sortudas no mundo. Mas claro, resquícios ficam e eles ficaram muito mais comigo do que com o resto da família. Eu tenho medo da morte. Tinha muito medo que as pessoas morressem, que minha mãe morresse. Hoje meu maior medo é morrer antes dela. Medo é uma coisa com a qual tenho que lidar todos os dias, de uma forma ou de outra. Esse ano tem se mostrado um ano de enfrentamento desses medos e sua consequente superação. Vocês não tem ideia da quantidade de coisas que escolhi enfrentar. Meu 2014 foi um ano terrível, mas sem ele eu não teria coragem ou força de vontade pra conseguir prosseguir com o meu 2015 que vem sendo de transição, e toda mudança é difícil, mas a gente chega lá. 

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