Quando minha mãe descobriu que
tínhamos câncer, não tivemos muito tempo para digerir a ideia. O câncer de
mama, e já estava num estado avançadíssimo. A cirurgia foi marcada para dali
algumas semanas (duas, se não me engano). Eu tinha quase dezoito anos, e aos
dezoito anos nós acreditamos sermos invencíveis. Isso pode soar muito egoísta,
mas é a verdade na mente de um adolescente terminando o ensino médio: não era
comigo. Eu mantive a calma. Aliás, eu era uma pessoa muito estourada naquela
época, não conseguia segurar absolutamente nada, mas isso eu segurei, segurei
muito.
Lembro que chorei apenas quando estava
sozinho, na noite em que minha mãe foi internada antes de fazer a cirurgia. Minha
irmã ficou no hospital com ela o tempo inteiro e eu não deixei que meu pai
viesse para nossa casa dormir comigo, afinal, eu iria para a escola no dia
seguinte. Minha família iria chegar, e eu tinha meu cachorro. Não precisava
ficar com alguém. Mesmo assim, não dormi no quarto naquela noite. Levei o
colchão para a sala e devo ter assistido a algum filme na TV até ficar com sono
e conseguir dormir (esse processo tem sido bem complicado para mim desde 2008).
A cirurgia foi um sucesso e todo o pós-operatório, completamos cinco anos e nem
um resquício de câncer na mulher mais forte que já conheci e que tenho o imenso
prazer e honra de poder chamar de mãe.
Demorou algum tempo para que a ficha
caísse e eu entendesse que aquele fora um contato com a finitude humana, talvez
o primeiro – provavelmente o pior que uma pessoa possa ter: o de perder a mãe. Eu
me considero uma daquelas pessoas muito sortudas no mundo. Mas claro,
resquícios ficam e eles ficaram muito mais comigo do que com o resto da
família. Eu tenho medo da morte. Tinha muito medo que as pessoas morressem, que
minha mãe morresse. Hoje meu maior medo é morrer antes dela. Medo é uma coisa
com a qual tenho que lidar todos os dias, de uma forma ou de outra. Esse ano
tem se mostrado um ano de enfrentamento desses medos e sua consequente
superação. Vocês não tem ideia da quantidade de coisas que escolhi enfrentar. Meu 2014 foi um ano terrível, mas sem ele eu não
teria coragem ou força de vontade pra conseguir prosseguir com o meu 2015 que
vem sendo de transição, e toda mudança é difícil, mas a gente chega lá.
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