“Esse é o
nosso mundo/O que é de mais nunca é o bastante/E a primeira vez sempre é a
última chance/Ninguém vê onde chegamos/Os assassinos estão livres, nós não
estamos/Vamos sair, mas não temos mais dinheiro/Os meus amigos todos estão
procurando emprego/Voltamos a viver como há dez anos atrás/E a cada hora que
passa/Envelhecemos dez semanas”, assim Renato Russo começava a música Teatro dos Vampiros. Dizia ele que essa
música era, a principio, sobre a televisão, mas acho que se tornou mais um hino
de vida daqueles que só a Legião conseguia fazer.
Mas não, esse
não é um texto sobre Renato Russo ou a Legião Urbana. Esse é um texto sobre a
vida, sobre a vida e sobre a morte também. Esse trecho ilustra outra coisa: o
tempo. Ele passa, é cruel, ao mesmo tempo que é senhor e que nunca é perdido.
Faz tempo de mais que as coisas eram simples de mais... Nossos dez anos
chegaram mais cedo. Vieram aos sete. Nós nos separamos, a maioria de nós,
ficamos em alguns grupos, mas estávamos ali de alguma forma, sabíamos disso.
Nunca foi segredo pra ninguém que nossa turma foi e é revolucionária em vários
sentidos, que dá pra Globo fazer uma daquelas minisséries sobre amigos que se
encontram anos depois da formatura. Isso acontece porque, apesar do tempo, tudo
o que passamos naqueles três anos foi verdadeiro. Intenso como nós somos,
sempre fomos, todos nós. Intensos de mais e, talvez, tenha sido isso que nos
juntou.
Hoje o
primeiro de nós vai embora. Ele não deveria ir, todos nós concordamos com isso.
Mas ele foi. Ele foi com aquele sorriso de malandro de canto, com aquele boné
que nunca saiu da cabeça. Foi embora com o bonde da stronda, e com aquele jeito
meio manso. Fica silêncio no lugar. É estranho pensar nisso. Não, ele não era
meu amigo, acho que a última vez que o vi faz uns anos e nunca mais nos
falamos. Mas ele estava ali. Ele era parte dessa conexão que foi sendo
trabalhada durante aquele tempo. Quando uma parte dessa conexão some, a coisa
fica mais complexa. Nossos dez anos chegaram muito cedo. Somos ainda aqueles
adolescentes rindo no intervalo, somos ainda aqueles despreocupados. Somos
ainda tudo aquilo.
Clichês a
parte, fica pra gente tudo o que foi de melhor. Fica ainda uma lição, lição que
não podemos esquecer. Aquela velha coisa do Filtro
Solar com o Pedro Bial falando aquele monte de coisas que, por algum tempo,
foi moda soltar em formaturas. O fato é que somos processos, estamos em
andamento. Sempre em andamento. E nós continuamos, continuamos porque pra ele é
importante que continuemos, pois somos nós a memória dele. Aquilo que dele aqui
ficou. A conexão se mantém, muito embora os nossos dez anos tenham chegado cedo
de mais... Não, não foi tempo perdido.
Vai com teu boné, com teu sorriso, vai como metal, acerta as nuvens, vira raio, relâmpago e trovão. Vira ouro que sempre foi, vai rindo, Pinho.
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