Já faz quanto
tempo? Tempo demais. Tempo, tempo. Essa coisa estranha que não volta, não dá para
viver sem. Ele fica no passado, presente e futuro e todos nós, minúsculos,
ficamos a sua mercê. Aos doze queremos ter dezoito e o tempo nunca passa, mas
quando chegam os dezoito, ele não para. Simplesmente continua fluindo. Nosso
corpo sente o fluir do tempo, ele vai ficando cansado, mais fraco, ainda que
esteja forte, não é o mesmo. O tempo cinza me faz nostálgico, a semana pesada
me faz saudoso. Saudoso de tantas coisas que sei que não voltam mais, ficam na
memória para sempre.
Lembro dos dias
cinzas de quinze anos atrás, quando eu era uma criança e ainda não tinha muita
noção do que era o mundo. Lembro de ficar enrolado nas cobertas vendo desenhos
na televisão, lembro do meu pai fazendo chocolate quente para mim sempre que
começava Batman. Lembro do cheiro, do
gosto e da textura. Lembro de ficar empolgado com a minha vida, minha vida que
já tinha começado e estava numa das melhores partes. Mas a gente nunca sabe
quando é a melhor parte. Ela fica acontecendo meio escondida, meio sem dizer
nada e quando vai embora, deixa como um buraco no peito que não é preenchido
mais.
As pessoas que
foram como cometas em nossas vidas e aquelas que são estrelas e não cessam
jamais de brilhar no nosso céu. Brilham como se fossem eternas e depois que vão
embora, continuam ali brilhando, não se apagam até nós mesmos nos apagarmos. E
nós, quando nos apagamos ainda brilhamos para outras pessoas e assim fica de
nós um eco, um eco bonito de som brilhante. Quase como o riso de uma criança. E
as crianças guardam no sonho as histórias que contamos, guardam na mente o
exemplo que nos tornamos. Guardam no coração os abraços que lhes damos. Ficamos
lá: muito bonitos.
Os corações
quebrados se emendam, ficam rachados até alguém chegar e massageá-los e as
rachaduras somem, viram tatuagens que ficam ali nos lembrando do que fomos, mas
sem nos impedir de seguir em frente e de amar outra vez. Ficam lá, tão bonitas
e inesquecíveis que queremos sempre exibir. As mesas viram, o jogo vira e nós
continuamos. Como numa visão do futuro, galopamos por campos muito verdes com
riachos que não param, sentimos o vento frio cortando o rosto de um jeito
gostoso e o cheiro das flores enquanto corremos, corremos e nos tornamos, nós
mesmos, o próprio vento.
Lembramos que
as pessoas não são só aquelas que pensam e se parecem conosco, porque seguimos
pegadas de um estranho e descobrimos coisas que nunca soubemos antes. Coisas
novas e incríveis e muito bonitas, muito importantes. Descobrimos coisas
únicas, pequenas diferenças que fazem das pessoas partes de um quebra-cabeças
muito instigante de se montar, empenhamos um longo tempo decifrando esse
quebra-cabeça e nunca chegamos a nos arrepender. E é impossível compreender,
porque todos estão num movimento constante, numa evolução que não para.
Mas já faz
quanto tempo mesmo? Tempo demais.
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