Fico ouvindo
músicas em um loop quase eterno, sem
vontade de outra coisa, sem vontade de fazer qualquer outra coisa senão o que
amo mais que tudo. E estar em sala me deixa mais feliz que qualquer outra
coisa. Sou uma grande exceção entre milhares de regras. O carinho enorme que
recebo em troca de simplesmente estar ali, por simplesmente deixar pensar. E
pensar muda, pensar tem força e que força! Uma força enorme que quase não pode
ser medida, medida em sonhos de adolescentes que são sempre esquecidos por
todos. Esses jovens que querem tudo agora e não podem ter metade das coisas que
gostariam. E tudo se faz para que não tenham, para que jamais saiam de onde
estão, querem cabeça baixa e uma humildade quase servil deles, porque são
pobres, são negros. Ouvir alguém dizer “você ajudou muita gente aqui”, eles
gostam tão verdadeiramente de mim que querem que eu seja livre dizem que “minha
liberdade vai cantar”, quero que cante a liberdade deles. O mundo virou as
costas para eles, esquecem que eles são importantes, importantes de mais. Quero
que sejam, sobretudo, passarinhos que voam, voam. Mas quando é hora de voltar,
voltam. Quero que sejam seres pensantes... E na medida dessa liberdade que eles
buscam, que sejam felizes, tão felizes quanto puderem ser. E neles existe luz,
muita luz cheia de fragmentos coloridos que procuram encontrar a unidade dessas
cores todas, seja no preto, seja no branco. São jogo de cores, são jogo de
histórias, são jogo de sentimentos. Fortes e resistentes, centenas de filhos
que são meus filhos emprestados por algum tempo. E cuido com o coração e deixo
que se transformem em seres humanos melhores. É difícil deixar ir embora, mas
eles vão. Eu também vou. Vamos voar, vamos encontrar abrigo na saudade e na
memória um do outro.
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