quarta-feira, 4 de novembro de 2015

Digressão na Liberdade



Fico ouvindo músicas em um loop quase eterno, sem vontade de outra coisa, sem vontade de fazer qualquer outra coisa senão o que amo mais que tudo. E estar em sala me deixa mais feliz que qualquer outra coisa. Sou uma grande exceção entre milhares de regras. O carinho enorme que recebo em troca de simplesmente estar ali, por simplesmente deixar pensar. E pensar muda, pensar tem força e que força! Uma força enorme que quase não pode ser medida, medida em sonhos de adolescentes que são sempre esquecidos por todos. Esses jovens que querem tudo agora e não podem ter metade das coisas que gostariam. E tudo se faz para que não tenham, para que jamais saiam de onde estão, querem cabeça baixa e uma humildade quase servil deles, porque são pobres, são negros. Ouvir alguém dizer “você ajudou muita gente aqui”, eles gostam tão verdadeiramente de mim que querem que eu seja livre dizem que “minha liberdade vai cantar”, quero que cante a liberdade deles. O mundo virou as costas para eles, esquecem que eles são importantes, importantes de mais. Quero que sejam, sobretudo, passarinhos que voam, voam. Mas quando é hora de voltar, voltam. Quero que sejam seres pensantes... E na medida dessa liberdade que eles buscam, que sejam felizes, tão felizes quanto puderem ser. E neles existe luz, muita luz cheia de fragmentos coloridos que procuram encontrar a unidade dessas cores todas, seja no preto, seja no branco. São jogo de cores, são jogo de histórias, são jogo de sentimentos. Fortes e resistentes, centenas de filhos que são meus filhos emprestados por algum tempo. E cuido com o coração e deixo que se transformem em seres humanos melhores. É difícil deixar ir embora, mas eles vão. Eu também vou. Vamos voar, vamos encontrar abrigo na saudade e na memória um do outro.