domingo, 12 de junho de 2016

Desabafo

Tem dias que respirar fica difícil. Acordar num dia frio e descobrir que cinquenta pessoas inocentes foram assassinadas enquanto viviam suas vidas, foram assassinadas porque eram diferentes.

Até que ponto eu não estou sujeito a isso? Eu sempre soube dentro de mim tudo o que eu desejei, tudo o que eu sou. Não houve um momento de dúvida real para mim, tudo sempre foi muito claro. Eu tenho um orgulho imenso de quem sou, do que sou e de tudo o que represento, tenho um orgulho imenso de lutar todos os dias por mim e pelos outros. Enquanto eles dizem que homofobia não existe, pessoas são mortas por serem homossexuais. Enquanto eles dizem que cultura do estupro não existe, mulheres são estupradas diariamente. Enquanto isso nós somos meros ativistas virtuais? O que acontece com o real depois disso? O real continua negando o seu redor e aquilo que o constitui?

Caralho. Como dói. Eu sinto uma dor no peito de tanta angústia, de não estar na rua agora, com todos aqueles LGBTs que saem de casa na Parada, gritando, chorando, abraçando e beijando. Respeitando. Orando. Rezando. Rindo. Brilhando, como sempre fizemos. Nós sempre brilhamos. Brilhamos na hora de dançar, na hora de cantar. Diziam que eu era um sol, tanta luz, tanta cor. E de repente, tudo fica preto e branco e não sobra lugar pra correr, não sobra lugar nenhum onde você se sinta seguro.


O Brasil hoje vem enfrentando uma crise terrível, uma crise sem precedentes. Uma crise onde tudo o que é parte do passado parece ser melhor do que aquilo que é parte do futuro, mas o passado posto no presente, causa morte, dor, sofrimento. Ele mata o filho de dez anos da mulher que não teve nenhuma condição de cria-lo. Ele estupra uma mesma menina trinta vezes. Ele mata cinquenta pessoas por ódio. Como dói. Dói em mim porque sou parte dessas pessoas que morreram, sou luz, brilho e cor como eles. E tenho MUITO orgulho de ser assim. Tem dias que respirar fica difícil, hoje é um deles.