Tem dias que respirar
fica difícil. Acordar num dia frio e descobrir que cinquenta pessoas inocentes
foram assassinadas enquanto viviam suas vidas, foram assassinadas porque eram
diferentes.
Até que ponto eu não
estou sujeito a isso? Eu sempre soube dentro de mim tudo o que eu desejei, tudo
o que eu sou. Não houve um momento de dúvida real para mim, tudo sempre foi
muito claro. Eu tenho um orgulho imenso de quem sou, do que sou e de tudo o que
represento, tenho um orgulho imenso de lutar todos os dias por mim e pelos
outros. Enquanto eles dizem que homofobia não existe, pessoas são mortas por
serem homossexuais. Enquanto eles dizem que cultura do estupro não existe,
mulheres são estupradas diariamente. Enquanto isso nós somos meros ativistas
virtuais? O que acontece com o real depois disso? O real continua negando o seu
redor e aquilo que o constitui?
Caralho. Como dói. Eu
sinto uma dor no peito de tanta angústia, de não estar na rua agora, com todos
aqueles LGBTs que saem de casa na Parada, gritando, chorando, abraçando e
beijando. Respeitando. Orando. Rezando. Rindo. Brilhando, como sempre fizemos.
Nós sempre brilhamos. Brilhamos na hora de dançar, na hora de cantar. Diziam
que eu era um sol, tanta luz, tanta cor. E de repente, tudo fica preto e branco
e não sobra lugar pra correr, não sobra lugar nenhum onde você se sinta seguro.
O Brasil hoje vem
enfrentando uma crise terrível, uma crise sem precedentes. Uma crise onde tudo
o que é parte do passado parece ser melhor do que aquilo que é parte do futuro,
mas o passado posto no presente, causa morte, dor, sofrimento. Ele mata o filho
de dez anos da mulher que não teve nenhuma condição de cria-lo. Ele estupra uma
mesma menina trinta vezes. Ele mata cinquenta pessoas por ódio. Como dói. Dói
em mim porque sou parte dessas pessoas que morreram, sou luz, brilho e cor como
eles. E tenho MUITO orgulho de ser assim. Tem dias que respirar fica difícil,
hoje é um deles.